quarta-feira, 4 de abril de 2012

Conto III




   O quarto era sua prisão. Não havia qualquer tipo de grades nas janelas ou portas trancadas, nada disso poderia prender uma alma. Mas vivia como numa eterna solidão.

   Sempre rabiscando papéis, sempre colocava algum sentimento na ponta do lápis e os transformava em algum verso ou poesia, e quase sempre de dor.

   Sempre fingia um sorriso... Todos fingiam que acreditavam nesse sorriso, assim vivia.

   Foi em certa noite, sentado no lugar mais obscuro de uma margem, a lua refletida, se banhando no lago... Sentiu uma brisa e com ela um leve perfume, adocicado, marcante. Lentamente levantara sua cabeça e observara a outra margem, seu coração disparara, era ela.

   Perguntava-se se era um sonho, mas seu coração lhe dizia que era real. Após um breve piscar de olhos, sentia a respiração dela ao seu lado, suave.

   Chegara mais perto. Um leve sussurro em seu ouvido, um outro fechar de olhos, mas dessa vez ela se fora.
A voz dela soou como um chamado. Seu desejo era atende-la. Teria coragem? – Se perguntava.

   Não aguentava mais aquele quarto úmido e vazio. Não queria mais saber das poesias que traziam as desagradáveis lembranças.

   Ela aparecera no meio do lago, estendendo-lhe a mão. Ele se levantara devagar, não via mais nada além dela. Seu coração se acalmara. Caminhou na direção dela, na direção do lago, sua imagem aos poucos se fundindo a da lua, certo de que aquele seria um novo mundo.

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